A Bioeconomia é um novo modelo de produção industrial baseado no uso de matérias-primas de fontes biológicas. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, os empreendimentos na área da Bioeconomia já movimentam € 2 trilhões e geram cerca de 22 milhões de empregos no mundo. Além disso, as atividades bioeconômicas atendem pelo menos metade dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e integram ao lado das atividades baseadas em novas tecnologias digitais, a base de nova infraestrutura de desenvolvimento sustentável em construção acelerada nos principais mercados – para os quais a Sustainable Digital Finance vem desenvolvendo métodos, métricas e instrumentos específicos.
Nos processos produtivos da infraestrutura que está sendo substituída em todos os Países desenvolvidos, a chamada Economia Linear, as matérias-primas eram extraídas ou sintetizadas, depois passavam por processos de transformação de interesse dos mercados e geravam resíduos que eram então descartados no meio ambiente. Os empreendimentos bioeconômicos não se encaixam na velha Economia Linear. A Bioeconomia faz parte da Economia Circular, onde as matérias-primas são extraídas ou sintetizadas, depois passam por processos de transformação mas não geram resíduos poluentes ou utilizam os resíduos para novos processos produtivos construindo movimentos circulares até entregar subprodutos que não impactam negativamente o meio ambiente.
A expansão dos negócios nos segmentos da Bioeconomia são importantes para a mitigação dos efeitos da crise climática pela redução da produção de resíduos poluentes, é certo. Mas é preciso ter em mente também, que os efeitos nocivos da forma de produção humana exigem mais que evitar a poluição nas próximas décadas. É preciso criar negócios que geram valor aos capitais investidos limpando o Planeta de forma permanente e a longo prazo.
Além do mais, a Bioeconomia combina novas tecnologias que aproveitam resíduos até então destinados ao fundo dos oceanos, a atmosfera e de forma triste ao abandono em regiões pobres do País e do Planeta onde as populações não conseguem recursos para processar e eliminar resíduos como o lixo, o esgoto e tantos outros descartes industriais e domésticos. Muito da matéria orgânica fartamente encontrada associada com a pobreza, vai ganhar valor com o avanço das oportunidades de multiplicação dos capitais com a originação e estruturação de negócios característicos da Bioeconomia.
A Bioeconomia não é nova. Na verdade, desde que o ser humano passou a cozinhar seus alimentos, tal segmento bioeconômico das atividades humanas está presente em nossa infraestrutura produtiva dos meios de subsistência. O que há de inovação é a escala em uma busca por substituição de moléculas, materiais e produtos de fontes biológicas não poluentes e renováveis pelo meio ambiente, que possam substituir as que são prejudiciais ao equilíbrio ambiental. E, então, como consequência, associar tais processos bioeconômicos aos ciclos produtivos, ampliando a otimização e multiplicação dos fatores de produção com os quais o Homem pode contar.
A cada nova década os negócios bioeconômicos serão diversificados e acelerados por inovadoras aplicações das novas tecnologias da gestão da informação, combinadas com a digitalização de produtos e serviços – amplificados por aplicações tais como o DLT/Blockchain, a inteligência artificial, a robótica e a nano robótica, o aprendizado de máquina e muito especialmente a sintetização de novos materiais. Tal combinação de inovações já vem sendo aplicada à plantas cada vez maiores e de forma crescente, cada vez mais capital intensivas, gerando nova dinâmica às economias nacionais e sua integração à plataforma internacional de comércio e serviços. Esta é a Economia Circular na qual nossa tese de investimentos aposta como o novo ciclo de desenvolvimento sustentável global.
Por exemplo, no Brasil, já estão consolidados setores intensivos em capitais típicos da Bioeconomia. O segmento de produção de biocombustíveis (etanol, biodiesel e outros subprodutos), o setor de papel e celulose baseado em florestas manejadas, a indústria de reciclagem de resíduos e águas cinzas, a produção de plásticos a partir do etanol, a indústria da geração distribuída de energia por fontes renováveis e uma série de indústrias fornecedoras de matérias-primas extraídas de fontes renováveis são alguns exemplos. A biodiversidade brasileira, associada com a presença de algumas das principais empresas de pesquisa e inovação com foco em Bioeconomia (tais como a EMBRAPA e o AgriTech Valley no entorno de Piracicaba) tornam o Brasil um “player” destacado na originação e estruturação de negócios bioeconômicos.
As nossas atividades de análise de investimentos e pesquisa para a originação e estruturação de negócios (chamado Research) estão dirigidas para oportunidades de geração de valor em segmentos da Bioeconomia, assim como à aplicações das tecnologias digitais e novos produtos e serviços financeiros, onde se apliquem métodos, métricas e instrumentos da Sustainable Digital Finance (SDF), com foco no mercado brasileiro e escalável para o mercado internacional.
A cada novo dia nós testamos e incorporamos (ou descartamos) ao nosso Research, investimentos em ações e outros títulos de maior liquidez, emitidos por empresas de base bioeconômica para a negociação em mercados organizados por Bolsas de Valores. A cada dia ampliamos os testes com o uso de métodos, métricas e instrumentos criados para aplicar em nosso “allocation” e “picking” a Sustainable Digital Finance – tal e qual já fazemos nas áreas de Corporate Finance e Project Finance descritas acima. Os experimentos até aqui realizados sob a filosofia do “deep value investing” mostram diferenças na precificação do valor dos negócios frente aos preços de mercado, com os métodos e métricas incorporadas pela SDF. Isto porque, quando adicionamos os custos e receitas de externalidades calculadas por ferramentas incorporadas ao instrumental tradicional de análise de investimentos, resultados até então impensados irão surgir. Por exemplo, no valor intrínsico de empresas dos setores de papel e celulose ou de geradoras de energia com grandes ativos em energias renováveis, há muito o que já pode ser diferenciado em termos de retornos ponderados pelos riscos. Mais que uma apreciação apenas qualitativa, pesquisamos formas efetivas de oferecer parâmetros quantitativos às análises.
Um número crescente e já expressivo de empresas e instituições financeiras, no Brasil e no exterior, incorporam processos e equipes que fazem uso de instrumentos da Sustainable Digital Finance isoladamente. É difícil achar hoje uma casa de Research de ponta, que não esteja olhando alguns dos estudos em curso.
Nas últimas décadas, impulsionadas pela propaganda junto aos seus consumidores; pelas primeiras regulamentações derivadas de acordos globais sobre o clima; e, pela incorporação de novas gerações de profissionais aos seus quadros; ao menos as grandes corporações com processos globais mais estruturados passaram a divulgar relatórios sociais sobre os efeitos de seus negócios, buscaram visibilidade listando-se em índices diferenciados de sustentabilidade nas Bolsas de Valores, implementaram o “framework” ESG para continuarem acessando todas as linhas de crédito possíveis e até buscaram por sua associação aos Principles for Responsable Investiments (PRI) capitaneados pelas Nações Unidas.
Mas ainda é escasso o quanto tais iniciativas de fato resultaram em geração de valor adicional aos seus acionistas e o quantos diferenciais de valor gerados se relacionam com uma melhor organização de processos de trabalho de tais corporações vis-à-vis ao que se concretizou pelo valor adicional de processos da nova Economia Circular formada por negócios bioeconômicos.
A agregação sob o invólucro da Sustainable Digital Finance como um “framework” – onde métodos, métricas e instrumentos entregam uma análise de investimentos em atividades bioeconômicas centradas no valor adicionado para os acionistas, é o que o Research em Bioeconomia precisa alcançar. Os alocadores de capitais que melhor dominarem o “framework” e melhor aplicarem as novas tecnologias digitais para a sua automação e expansão, serão também os maiores geradores de valor extraordinário para os seus acionistas e investidores – em uma corrida que, pelo bem do Planeta, já começou.